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Foto do escritorThaís Nozaki

TEXTO Nº 2: O MOVIMENTO CRIADOR

Atualizado: 25 de jun. de 2023

Antes de falar sobre qualquer movimento criador, quero escrever sobre aquilo que nós criadores tememos tanto: o bloqueio criativo. Ô coisinha chata de lidar! Pode durar horas, dias, semanas, meses, anos de pura angústia. E não adianta, faz parte do processo de criação. Essa nuvem cheia de nada que paira sobre nossas mentes, pesa sobre nossos ombros com toda a força gravitacional e nos paralisa. É quando eu fico andando de um lado para o outro, sem conseguir prestar atenção muito tempo numa determinada situação ou para um determinado objeto, sem paciência tento respirar, suspiros e mais suspiros, nada fixa, tudo é muito volátil, fico muito incomodada com essa inércia criativa. Quando me percebo assim já sei que me falta o silêncio para organizar meus pensamentos. Às vezes é só disso que preciso para voltar a criar. Nada de ruídos urbanos, de vozes humanas, de latidos caninos. Apenas o silêncio.


Ah, sempre romantizo o silêncio, porque o idealizo perfeito, mas é claro que não é bem assim quando se mora no centro urbano de uma cidade média e se tem uma família, então como bom ser adaptável que sou, prefiro a madrugada. Piadas à parte e mantendo sempre o bom humor, o silêncio possível já me satisfaz e me deixa livre para ser criadora. Depois de estar nele, o silêncio, consigo caminhar melhor na direção da criação, pois consigo me escutar e assim organizar, avaliar, ponderar e criar.


Para mim, o melhor silêncio que existe para trabalhar é dentro do meu escritório, pois todos os meus objetos de trabalho estão à mão e facilitam o trânsito entre pensar e fazer. A familiaridade do lugar e das coisas dele também me ajudam no movimento de criação. Ao contrário do que muitos dizem, a zona de conforto me auxilia em zonas não tão confortáveis assim. Eu preciso ficar no local de trabalho para sair o trabalho. Prefiro acreditar que sou um ponto fora da curva, já que esse fluxo funciona muito bem para mim. Das vezes que tentei diferente - sair, espairecer - desanuviei tanto que não consegui elaborar o que era preciso fazer.


Outra coisa que funciona bem pra mim é ler e tem dado mais certo ainda depois que comecei a ler literatura brasileira. Tem muita gente foda escrevendo. Sempre gostei de ler, mas lia muita não-ficção, agora os ficcionais estão tomando lugar especial na minha vida. A leitura é um pouco do silêncio que julgo perfeito, então ela realmente me traz para a criação.


O último livro que li, falava sobre a realidade de uma família do Brasil profundo - a transmissão de saberes dos ancestrais para os seus sucessores e a história mostra a formação do espaço geográfico e sua transformação. Esse livro me levou para os meus ancestrais e fui à casa de minha avó materna resgatar algumas fotografias antigas, antiguíssimas, do início do século XX, do Japão e de um município próximo a minha cidade natal. As fotografias não eram só de familiares, também tinha de amigos e suas famílias, colegas de trabalho, entre outros que não saberia dizer. A grande maioria carcomida pelo tempo e pelos cupins.


Penso em fazer algum trabalho com essas fotografias, estou maturando algumas faltas e sentimentos e quero melhor entendê-las, saber aonde e qual convergência todas essas tramas têm. Enquanto isso, procuro organizar outros trabalhos, mais burocráticos e não menos importantes e manter contínuo os meus estudos.


Por fim, escrever é algo que me traz um gozo imensurável e a partir dela reconecto-me com o meu lugar de fala: ser artista. Porque mesmo em bloqueio criativo, existe o movimento criador. Não no meu tempo, nem no seu tempo. No tempo da obra.

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