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  • Foto do escritorThaís Nozaki

TEXTO Nº 4: ARTE COMO PARTILHA I - EXPOSIÇÃO MATRIZES


No final de 2023 escrevi um projeto artístico cultural junto com a produtora e artista Camila Grun, que foi aprovado pelo Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos. Pensamos juntas um projeto que abrangesse o máximo de artistas mulheres com intuito de nos trazer a dignidade da criação e produção artística, com insumos gráficos e espaço expositivo, além da troca entre público e artistas numa roda de conversa. Em contrapartida, também pensamos na continuidade dessa troca e ofertamos duas oficinas de estamparia; gravura em tetrapak e carimbaria com e.v.a. - materiais acessíveis para público de espaços culturais da cidade.

 

Assinamos uma curadoria direcionada para artistas mulheres amadoras e profissionais em início de carreira, do município de São José dos Campos, estendendo para artistas de cidades limítrofes, convidando-as por suas pesquisas artísticas. No total somam-se dez artistas mulheres no campo da gravura expandida.

 

A produção expositiva, no que se refere à expografia, foi pensada e organizada para que não somente as obras impressas, no seu resultado final, fossem expostas, mas também a mostra de todas as matrizes produzidas para o projeto, com o objetivo de aproximar ainda mais o público do processo de criação de cada artista.

 

O espaço que nos acolheu é um ateliê independente do coletivo Gostaríamos de Explicar Muitos Atos, na região central da cidade, o que permitiu a presença de um público de diversos locais do município, devido a fácil acessibilidade de transporte público e também para pedestres. Realizamos a abertura da exposição com uma roda de conversa com as artistas, num final de tarde outonal e com “cara” de verão, iluminado por um varal de pequenas e charmosas lâmpadas amarelas, alguns comes e bebes, e recorde de público do ateliê que ocupamos. Temos um caderno de recados para as artistas do projeto e ali recebemos afetuosas mensagens daqueles que se permitiram conhecer nossos pensamentos gráficos.

 

Apesar de haver um tema específico, a criação foi livre e foram utilizadas diferentes técnicas de impressão manual como serigrafia, monotipia, xilografia, calcografia, estencil, entre outras. As impressões foram produzidas com matrizes de diferentes materiais - radiografia, topo de madeira, compensado, placa de cobre, placa de alumínio, papel kraft, tela serigráfica, etc. As narrativas são diversas e adentram universos particulares, que perpassam da mitologia grega à memórias individuais, assim como a palavra matriz com seus inúmeros significados. Cada artista produziu um tríptico e a exposição conta no total com trinta obras gráficas. As artistas que participaram do projeto são: Camila Grun - artista, produtora executiva e curadora, Catarina Dantas, Gabriela Oliveira, Jeni Cris, Mariana Sousa, Marlene Alves, Nalu Luzio, Thaís Nozaki - artista, produtora geral e curadora, e Thaylla Barros.


Fotos: Beka Diniz, 2024.

 

Refletindo sobre todo o processo, chego à conclusão que existem muitas artistas mulheres que produzem artes gráficas em São José dos Campos, mas estão escondidas em seus espaços, em suas duras rotinas de conciliar a arte com o trabalho dito formal, muitas vezes sem condições adequadas para produção artística e desmotivadas para trocar saberes. O projeto gerou renda para treze profissionais do mercado artístico cultural! O Matrizes também me trouxe questionamentos ainda desamparados de respostas. Como dar continuidade à prática artística da gravura expandida, de forma que as artistas amadoras ou profissionais possam trocar saberes em um lugar público dedicado a isso? Como podemos firmar que essa prática artística seja compreendida como um trabalho remunerado? Como trazer essa discussão para a esfera pública?

 

Em São José dos Campos, os únicos ateliês públicos foram fechados. A extinta OC Altino Bondesan e o Atelier George Güthlich da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Eram nesses equipamentos culturais que aconteciam oficinas de gravura, pintura, cerâmica, palhaçaria, teatro, produção cultural, enfim, o que havia nos campos das artes e da cultura para a região. Para a gravura, temos prensas relíquias que estão maltratadas pelo tempo sem uso, por exemplo. O próprio prédio está precário. Isso foi reverberado em nossa roda de conversa como um assunto público deve ser tratado - coletivamente. Mas precisamos expandir o debate.

 

E por fim, dizer que também os espaços independentes tem colorido e dado acolhimento aos nossos sonhos, possibilitando realizá-los. Não há felicidade maior para uma produtora cultural do que a formação de público e assim é para nós artistas independentes uma satisfação cósmica partilhar nossas criações. Se não há partilha, não há arte.


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