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TEXTO Nº 6: INTERIOR É POESIA.

  • Foto do escritor: Thaís Nozaki
    Thaís Nozaki
  • 9 de jun.
  • 4 min de leitura


Milton Santos, ilustre geógrafo brasileiro, define território, uma categoria de análise do espaço geográfico, entendendo-o humano, dinâmico, habitado, não apenas como fundamento do Estado-Nação. Conceitua território como “fundamento do trabalho, lugar de residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida”, ou seja, é um território usado, e, sobre territorialidade, apresenta-a como uma ideia de pertencimento a um território, com ligações afetiva e física, de um indivíduo ou grupo. Sobre lugar, a professora e pesquisadora Maria Adélia Aparecida de Souza diz que “é o palpável, que recebe os impactos do mundo. O lugar é controlado remotamente pelo mundo.” Nesse sentido, os lugares falam sobre as pessoas tanto quanto as pessoas falam sobre os seus lugares.


E é preciso ter um olhar cuidadoso para as pessoas, já que a existência humana é complexa e multifacetada, envolve as presenças da experiência, da consciência e da atuação no mundo, busca um sentido e cria significados para a vida. Abarca uma série de fatores como a cultura, a sociedade, a história, a intersubjetividade e a subjetividade individual. É rica em nuances, desafios e oportunidades, exigindo uma reflexão contínua sobre a nossa própria identidade, o nosso lugar no mundo e suas implicações. Essas reflexões devem ter um embasamento filosófico para melhor compreender o percurso e os discursos que pautam ou tentam pautar em nossas vidas. Somos seres políticos, você querendo ou não.


A filosofia existencialista, basicamente, enfatiza a importância da liberdade individual, da escolha e da responsabilidade na construção do significado da vida. Aprecia a autenticidade de quem vive de acordo com os seus valores e escolhas individuais, em vez de se conformar com as normas sociais. Não há um propósito definido para a vida; cada indivíduo cria o seu próprio significado através de suas escolhas e ações. Consciência e reflexões podem gerar faltas e, esses vazios podem gerar angústia, que por sua vez traz a necessidade de mudanças e propõe movimento, ação. Algo que incomoda deve mudar, não é mesmo? Algo que desconhecemos e devemos conhecer nos faz ação, correto? É preciso correr atrás, dizemos.


Em um artigo, a filósofa e professora Thana Mara de Souza, aborda relações entre existencialismo e feminismo e comenta que “o feminismo existencialista propõe, assim, ferramentas teóricas e práticas que apontam para o respeito ao modo singular como cada pessoa constrói a sua vida, e para a exigência de oportunidades concretas, não apenas econômicas, mas também morais, sexuais, sociais e políticas.” Impossível não citar Beauvoir, não praticar o feminismo por onde eu passo, mas há um campo a ser investigado e confesso que estou muito animada para iniciar a pesquisa bibliográfica. Portanto, a fundamentação teórica traz o recorte de gênero para esse lugar de pesquisa.


Inicialmente voltada para as questões subjetivas pessoais, a pesquisa agora toma uma outra escala de investigação. Apresentei metáforas visuais que representam o meu pensar, o meu fazer e o meu lugar como território artístico, com o objetivo de provocar reflexões filosóficas, políticas e sociais. Nesse mesmo caminho, a pesquisa visa investigar outras subjetividades femininas, individuais e coletivas, em territórios físico-geográficos e como lugares de afeto.


lambe-lambe em estêncil.
lambe-lambe em estêncil.

Deste jeito, Interior é Poesia vem pinçando conceitos e princípios da geografia e da filosofia existencialista feminista para criar metáforas visuais que abordem reflexões acerca das questões de gênero, em sua forma real, simbólica e imaginária. Essa relação de como o mundo nos oferece espaço e como lidamos com o que o mundo nos oferece, o que e como nos afeta, objetiva e subjetivamente, é o que me interessa desbravar. Quero inserir retratos de personalidades encontradas ao longo da pesquisa, proporcionando assim o reforço da intersubjetividade entre retratada, criadora e espectador, trazendo um rosto de quem existe, a partir do olhar de quem retrata, para outro rosto que também existe e observa. Um dos princípios básicos da pesquisa é trazer a retratada para o campo do fazer artístico, propondo uma experiência artística e colaborativa.


Público da exposição Interior é Poesia, com os lambe-lambes que foram distribuídos gratuitamente durante o evento de abertura. Os cartazes ficavam dispostos e o público escolhia a sua obra gráfica. Foto: Fábio Ramos.
Público da exposição Interior é Poesia, com os lambe-lambes que foram distribuídos gratuitamente durante o evento de abertura. Os cartazes ficavam dispostos e o público escolhia a sua obra gráfica. Foto: Fábio Ramos.

A produção artística fica por conta de técnicas de reprodução manual da imagem, como a xilogravura, estêncil, serigrafia e o carimbo, com procedimentos tradicionais e híbridos. Tenho inserido a palavra e usado da minha caligrafia própria para criar ilustrações tipográficas, integrando-as aos símbolos, ou não, para a composição das metáforas visuais. Para concluir, considero que a produção gráfica desta fase inicial da pesquisa fechou-se com a partilha pública de uma exposição individual, com curadoria assinada por Pitiu Bonfim, realizada na Galeria Rexisto/Teatro Marcelo Denny, em São José dos Campos, SP, em fevereiro deste 2025.


 

Bibliografias consultadas:

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. 

SOUZA, Maria Adélia Aparecida de. O retorno do território: apresentação. Santos, Milton. O retorno do territorio. En: OSAL : Observatorio Social de América Latina. Año 6 no. 16 (jun. 2005 ). Buenos Aires : CLACSO, 2005- ISSN 1515-3282.Disponível em http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal16/D16Santos.pdf

SOUZA, Thana Mara de.Feminismo e Existencialismo. Disponível em https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/feminismo-e-existencialismo/ acesso em 09/06/2025.

 

 
 
 

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©2023 por Thaís Nozaki.

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